pudesse sentir alegria ou tristeza, irritação ou tristeza significava que
nesse momento alguém o havia afetado. Se assim fosse isto significava
que o homem tinha influenciado em Deus e que portanto era mais
poderoso que Ele. Assim pois, sustentavam que Deus deve ser incapaz
de todo sentimento e que nada pode afetá-lo jamais. Um Deus que sofria
era para os gregos uma contradição. Mas foram mais adiante. Plutarco
declarou que era um insulto envolver a Deus nos assuntos humanos.
Deus estava necessariamente desligado e remoto. A própria idéia da
encarnação, de que Deus se transformasse em homem, repugnava à
mentalidade grega.
Agostinho, quem foi um grande erudito antes de converter-se ao
cristianismo, podia dizer que nos filósofos gregos encontrava um
paralelo de quase todos os ensinos do cristianismo; mas uma coisa —
dizia — nunca tinha achado: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós."
Celso que atacou aos cristãos com muito vigor pelo fim do século
II, escreveu: "Deus é bondade, beleza e felicidade, e nisso justamente
reside sua formosura e magnitude. Se então ‘desce aos homens’ há uma
mudança nEle, do bom ao mau, do belo ao feio, da felicidade à falta
dela, do melhor ao pior. Quem escolheria tal mudança? Porque a
mortalidade é só uma natureza para ser alterada e mudada; mas a
imortalidade é permanecer para sempre. Deus nunca aceitaria tal
mudança. Para os intelectuais gregos a encarnação era uma
impossibilidade total. Para as pessoas que assim pensavam era incrível
que alguém que tinha amado e sofrido pelos homens como o tinha feito
Jesus pudesse ser o Filho de Deus.
(b) Os gregos buscavam a sabedoria. Originalmente a palavra grega
sofista significava sábio em um bom sentido; mas chegou a significar um
homem com uma mente inteligente e uma língua ardilosa, um acrobata
mental, um homem que com uma retórica brilhante e persuasiva podia
fazer com que o pior parecesse o melhor. Um homem que podia passar o
tempo discutindo trivialidades, que não tinha interesse real em encontrar
soluções mas apenas se glorificava no estímulo de "uma ginástica
1 Coríntios (William Barclay) 28
mental". Referia-se ao homem que se glorificava em ter uma mente
sagaz e veloz, uma língua de prata e um auditório que o admirasse.
Crisóstomo descreve os sábios gregos assim: "Coaxam como rãs em um
pântano, são os homens mais indesejáveis devido ao fato de que, apesar
de serem ignorantes, crêem-se sábios, são como perus reais, que fazem
notar sua reputação e o número de seus alunos como aqueles desdobram
suas caudas."
É impossível exagerar a habilidade quase fantástica que os retóricos
de língua de prata tinham na Grécia.
Plutarco diz: "Adoçavam suas vozes com ritmos musicais,
modulações do tom e ressonâncias." Nunca pensavam no que diziam,
mas em como o diziam. Seu pensamento podia ser venenoso sempre e
quando estivesse envolto em palavras doces.
Filostrato nos conta que Adriano o sofista tinha grande reputação
em Roma, e quando apareceu seu mensageiro com a notícia de que ia
dissertar, o senado se esvaziou e até o povo que assistia aos jogos o
abandonou tudo para congregar-se a seu ao redor.
Crisóstomo descreve o quadro dos assim chamados homens sábios
e suas competições em Corinto mesma, nos chamados Jogos ístmicos.
"Podia-se ouvir a muitos pobres miseráveis sofistas gritando e
insultando-se entre si, e a seus discípulos, como os chamam, brigando; a
muitos escritores lendo suas estúpidas composições, a muitos poetas
cantando seus poemas, a muitos histriões exibindo suas maravilhas, a
muitos adivinhos dando o significado de prodígios, a dez mil retóricos
tergiversando demandas judiciais, e a um não pequeno número de
comerciantes realizando seus diferentes negócios "
Os gregos estavam intoxicados de formosas palavras, e o pregador
cristão com sua tosca mensagem lhes parecia um personagem cru e
inculto do qual podiam mofar-se e ridicularizar em lugar de ouvi-lo e
respeitá-lo.
Parecia que a mensagem cristã tinha poucas oportunidades de obter
êxito no contexto da vida grega e judia; mas, como disse Paulo: "O que
1 Coríntios (William Barclay) 29
pareceria ser uma insensatez por parte de Deus é mais sábio que a
sabedoria humana, e o que pareceria ser uma fraqueza de Deus é mais
forte que a força do homem,"
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