(b) Descreve os cristãos como aqueles que foram chamados para
ser o povo dedicado a Deus. Traduzimos com toda esta frase uma só
palavra grega. A palavra é hagios, que geralmente se traduz santos. Em
nossos dias isto não nos dá a figura correta. A palavra hagios descreve
uma coisa ou uma pessoa que foi dedicada à possessão e ao serviço de
Deus. É a palavra por meio da qual se descreve um templo ou um
sacrifício que foi afastado para Deus. Se uma pessoa tiver sido se
separada dessa maneira, deve demonstrar que sua vida e seu caráter são
aptos para esse serviço. Dessa maneira hagios passa a significar santo,
sagrado. Mas a idéia radical da palavra é separação. Uma coisa ou uma
pessoa que é hagios é diferente de todas as outras coisas ou pessoas,
devido ao fato de que foram separadas do comum para pertencer
especialmente a Deus. Esse era o adjetivo que usavam os judeus para
descrever-se a si mesmos, era os hagios laos, o povo santo, a nação que
estava separada e era diferente das outras devido ao fato de que em uma
forma muito especial pertenciam a Deus e foram separados para seu
serviço. Quando Paulo chama os cristãos hagios quer dizer que o cristão
é um homem que difere de outros porque pertence a Deus especialmente
e está a seu serviço. E essa diferença não deverá ser assinalada por meio
do afastamento da vida e atividades comuns, mas sim mostrando na vida
e atividades ordinárias uma diferença em qualidade e caráter que o
assinale como homem de Deus.
(c) Paulo dirige sua carta àqueles que foram chamados a ser santos
com todos os que em qualquer lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo. O cristão foi chamado para fazer parte de uma comunidade
cujos limites abrangem toda a terra e todo o céu. Pertence a uma grande
companhia. Far-nos-ia muitíssimo bem olhar de vez em quando além de
nossa pequena comunidade, círculo, comunhão e seita e pensar em que
somos parte da Igreja de Deus que é tão vasta como todo mundo.
(3) Esta passagem nos diz algo a respeito de Jesus Cristo. Paulo se
refere a nosso Senhor Jesus Cristo, e logo, por assim dizer, corrige-se e
adiciona Senhor deles e nosso. Nenhum homem nem nenhuma igreja tem
1 Coríntios (William Barclay) 20
a possessão exclusiva de Cristo. Ele é nosso Senhor, mas também o é de
todos os homens. O maravilhoso e surpreendente sobre o cristianismo é
que todos os homens possuem todo o amor de Jesus, que Deus ama a
cada um de nós como se houvesse um só de nós para amar.
A NECESSIDADE DE AGRADECER
1 Coríntios 1:4-9
Nesta passagem de ação de graças se destacam três coisas:
(1) Uma é a promessa que se fez realidade. Quando Paulo pregou o
cristianismo aos coríntios disse que Cristo podia fazer determinadas
coisas por eles, e agora assinala orgulhosamente que tudo o que ele tinha
prometido que Cristo podia fazer se realizou.
Um dos antigos missionários disse a um dos reis pictios. "Se aceitar
a Cristo, encontrará maravilha após maravilha — e cada uma delas será
verdadeira. Em realidade não podemos converter a ninguém ao
cristianismo por meio de palavras: só podemos dizer "Tentem e vejam o
que acontece", com a segurança de que, se o fizerem, o que assinalamos
a seu favor será certo.
(2) Outra é o dom que foi outorgado. Paulo utiliza aqui uma de suas
palavras favoritas. Trata-se da palavra charisma. Charisma significa um
dom outorgado livremente ao homem, um dom que não merecia e que
jamais poderia ter obtido por si mesmo. Esse dom de Deus, conforme o
via Paulo, assumia duas formas:
(a) A salvação é o dom, o charisma de Deus. Obter uma correta
relação com Deus é algo que o homem nunca poderia conseguir por si
mesmo. Trata-se de um dom que lhe foi outorgado e que provém da
mera generosidade do amor de Deus (cf. Romanos 6:23).
(b) Outorga ao homem todos os dons especiais que possui e todo o
equipamento necessário para toda a vida. Todos os dons pessoais provêm
de Deus (1 Coríntios 12:4,9; 1 Timóteo 4:11; 1 Pedro 410). Se um
homem tiver o dom da palavra ou o dom de cura, se possuir o dom da
1 Coríntios (William Barclay) 21
música ou de qualquer arte, se for hábil com suas mãos, deve considerar
que todos esses dons provêm de Deus. Se nos déssemos conta disso
plenamente, isso outorgaria uma nova atmosfera e caráter à vida. As
habilidades que possuímos, os ofícios que dominamos, os dons que
temos, não foram obtidos por nós mesmos, são dons de Deus, e,
portanto, temo-los em custódia. Não devemos usá-los como nós
queremos, mas sim como Deus o deseja; não devemos usá-los para nosso
proveito e prestígio, mas sim para a glória de Deus e para o bem dos
homens. O ser possuidor de um dom especial não significa ter uma fonte
de lucros para nós mesmos, mas um instrumento de serviço para Deus.
(3) Existe um fim último. No Antigo Testamento a frase, o Dia do
Senhor, aparece várias vezes. Era o dia no qual vos judeus esperavam
que Deus interviria, irrompendo diretamente na história, o dia em que o
velho mundo desapareceria e nasceria um novo mundo, o dia em que
seriam julgados todos os homens. Os cristãos tomaram esta idéia, com a
diferença de que o chamam Dia do Senhor, com a idéia de que se trata
do dia do Senhor Jesus, e o consideravam o dia em que Jesus voltaria
com todo seu poder e glória. Esse, sem lugar a dúvidas, seria um dia de
juízo.
Cadmon, o antigo poeta inglês, desenhou um quadro em um de seus
poemas sobre o dia do juízo. Imaginou que a Cruz estava localizada no
meio do mundo e dela provinha uma estranha luz que tinha as qualidades
penetrantes dos raios X e que tirava os disfarces das coisas e as mostrava
tal qual eram.
A crença de Paulo é que quando chegar o juízo final o homem que
viva em Cristo poderá enfrentá-lo sem temor devido ao fato de que
estará vestido não de seus próprios méritos, mas sim dos de Cristo, de
maneira que ninguém poderá acusá-lo.
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