homens do pecado. Nenhum cristão pode considerar com leviandade o
pecado.
O veredicto de Paulo é que se deve fazer algo com esse homem. Em
uma frase vívida diz que deve ser entregue a Satanás. Significa com isto
que deve ser excomungado. Considerava-se o mundo como o domínio de
Satanás (João 12:31; 16:11; Atos 26:18; Colossenses 1:13) em
contraposição à Igreja que era o domínio de Deus. O veredicto de Paulo
é que se envie de novo este homem ao mundo de Satanás ao qual
pertence. Mas devemos notar que até um castigo tão sério como este não
era reivindicativo. Tratava-se de humilhar o homem, de domar e
erradicar suas paixões de modo que no final seu espírito pudesse ser
salvo. Tratava-se de fazê-lo repensar, de fazê-lo ver a enormidade do que
tinha feito. Era uma disciplina que se exercitava não só para castigar,
mas também para despertar. Era um veredicto que devia levar-se a cabo,
não com uma crueldade sádica e fria, mas sim com dor por alguém que
morreu. Sempre atrás do castigo e a disciplina, na igreja primitiva, estava
a convicção de que devia levar-se a cabo com o propósito, não de
destroçar, mas sim de refazer o homem que tinha pecado,
Logo Paulo dá alguns conselhos práticos. Nos versículos 6-8 a
Nova Versão Internacional (NVI), diferente de algumas outras, dá a
tradução literal do original. Aqui nos encontramos com uma imagem
expressa em termos judeus. Na literatura judia, salvo poucas exceções, o
fermento representa más influências. A levedura é massa fermentada que
se guarda de uma fornada anterior. Os judeus identificavam a
fermentação com a putrefação. De modo que o fermento significava uma
influência putrefaciente e corruptora. O pão da Páscoa era sem fermento
(Êxodo 12:15 ss.; 13:7). Porém mais que isso, a lei estabelecia que no
dia anterior ao da festa da Páscoa os judeus deviam acender uma vela e
buscar cerimonialmente a levedura pela casa, e atirar até o último pedaço
dela. (Ver a imagem da busca de Deus em Sofonias 1:12) (Devemos
notar que a data desta busca era em quatorze de abril e que nela se viu a
origem da grande limpeza da primavera).
1 Coríntios (William Barclay) 52
Antes da Páscoa se devia eliminar os últimos restos de levedura.
Assim, pois, Paulo toma esta imagem. Diz que nosso sacrifício — Cristo
— foi realizado; foi o seu sacrifício que nos libertou do pecado, assim
como Deus libertou os israelitas do Egito. Portanto — continua —
devemos tirar de nossas vidas os últimos rastros de maldade. Se
deixarmos que uma má influência penetre na Igreja, pode corromper toda
a sociedade, assim como o fermento penetra em toda a massa. Aqui mais
uma vez nos encontramos com uma grande verdade prática. Às vezes é
preciso exercer a disciplina pelo bem da Igreja. Nem sempre é bom
fechar nossos olhos perante as ofensas; elas podem nos prejudicar. O
veneno deve ser eliminado antes de que se expanda, a erva daninha deve
ser arrancada antes de poluir toda a terra.
Aqui nos encontramos com um grande princípio de disciplina. A
disciplina não deve ser exercida para a satisfação da pessoa que a aplica,
mas sempre deve usada para corrigir a pessoa que pecou, e sempre pelo
bem da igreja. Nunca deve ser vingativa, deve ser sempre preventiva e
curativa.
A IGREJA E O MUNDO
1 Coríntios 5:9-13
Parece que Paulo já tinha escrito uma carta aos coríntios insistindo
com eles para evitarem associar-se com homens maus. Isto era destinado
a aplicar-se aos membros da Igreja, queria dizer que os homens
pecadores deviam ser disciplinados, apartando-os da sociedade da Igreja
até que corrigissem sua conduta. Mas ao menos alguns dos coríntios
creram tratar-se de uma proibição absoluta, e é obvio, tal proibição só
podia cumprir-se com a separação total do mundo. Em um lugar como
Corinto teria sido impossível levar a cabo uma vida normal sem associarse
nos assuntos cotidianos com aqueles cujas vidas a Igreja condenava
totalmente. Mas Paulo nunca quis dizer isto: nunca teria recomendado a
um cristão que se separasse do mundo; para ele o cristianismo era algo
1 Coríntios (William Barclay) 53
que tinha que viver-se no mundo. Um piedoso ancião disse uma vez a
João Wesley: "Deus não conhece a religião solitária." E Paulo teria
estado de acordo com isso. É muito interessante considerar os três
pecados que Paulo assinalou como típicos do mundo. Menciona três
tipos de pessoas.
(1) Fala sobre os fornicários, aqueles que eram culpados de
degradação moral. Só o cristianismo pode garantir a pureza. A raiz da
imoralidade sexual é um conceito equivocado dos homens, que no final
os considera como bestas. Declara que as paixões e os instintos que
compartilham com os animais devem ser gratificados sem vergonha.
Considera as outras pessoas simplesmente como instrumentos através
dos quais se pode obter essa gratificação. Enquanto o cristianismo
considera o homem como um filho de Deus, e justamente devido a isso,
como uma criatura que vive no mundo mas que sempre olha para além
do mundo, como uma pessoa cuja vida não está determinada puramente
pelas necessidades, desejos e normas físicas, que embora tenha corpo
também tem espírito. Se os homens se considerassem a si mesmos e a
outros como filhos e filhas de Deus desapareceria automaticamente da
vida a lassidão moral.
(2) Fala sobre os avarentos e ambiciosos dos bens deste mundo.
Mais uma vez, só o cristianismo pode destruir esse espírito. Se julgarmos
as coisas com base em medidas puramente materiais, não há razão para
que não tomemos como medida nossos próprios interesses, não há razão
para que não dediquemos nossa vida à tarefa de conseguir mais. Mas o
cristianismo introduz na vida o espírito que olha para fora e não para
dentro. Faz do amor o valor mais alto na vida, e portanto do servir a
maior honra. Quando o amor de Deus está no coração de um homem
encontrará alegria, não em receber, mas sim em dar.
(3) Fala sobre a idolatria. A idolatria antiga poderia comparar-se
com a superstição moderna. Poucas épocas estiveram tão interessadas
em amuletos, talismãs e objetos que trazem sorte, em astrólogos e
horóscopos como a época atual. A razão é a seguinte: uma regra básicada vida é que o homem deve adorar alguma coisa. E a não ser que adore
ao Deus verdadeiro, ele se inclinará perante os deuses da sorte e da
oportunidade. Sempre que a religião se debilita, fortalece-se a
superstição.
Devemos notar que estes três pecados básicos do mundo
representam as três direções nas quais o homem peca.
(a) O pecado da fornicação é um pecado contra o próprio ser do
homem. Ao cair, ele se reduziu ao nível de um animal, pecou contra a luz
que está nele e contra o melhor que conhece permitiu que sua natureza
inferior derrote o mais elevado de si mesmo e se converteu em algo
menos que um homem.
(b) O pecado do espírito avarento e ambicioso é nossos vizinhos e
os que nos rodeiam. Considera os seres humanos como pessoas que
podem ser exploradas, em lugar de vê-los como irmãos que devem ser
ajudados. Esquece que a única prova de que amamos a Deus deve ser o
fato de que amamos os que nos rodeiam como a nós mesmos.
(c) O pecado da idolatria é contra Deus. Permite que os objetos
usurpem o lugar de Deus. Significa abandonar o Deus verdadeiro por
falsos deuses. É não dar a Deus o primeiro e único lugar na vida.
Um dos princípios de Paulo é que não devemos julgar aqueles que
estão fora da Igreja. A frase "os de fora" era uma frase judia que se usava
para descrever as pessoas que não pertenciam ao povo escolhido.
Devemos deixar que sejam julgados por Deus, único que conhece o
coração dos homens. Mas o homem que está dentro da Igreja tem
privilégios especiais e portanto responsabilidades especiais, tem a seu
cargo diversas tarefas que dependem de seu livre-arbítrio e portanto deve
responder por elas, é um homem que tem feito um juramento e uma
promessa perante Cristo e que portanto pode ser chamado a contas pela
forma em que os guarda.
Assim, pois, Paulo finaliza com uma ordem definida: “Expulsai,
pois, de entre vós o malfeitor.” Trata-se de uma citação de Deuteronômio
17:7 e 24:7. Há momentos em que o câncer deve frear-se, devem tomar
1 Coríntios (William Barclay) 55
medidas drásticas para evitar a infecção. O que move a Paulo não é o
prazer de aplicar uma lei severa ou o desejo de ferir ou demonstrar seu
poder; trata-se do desejo do pastor de proteger a sua Igreja nascente da
infecção do mundo que sempre a ameaça.
1 Coríntios 6
A insensatez dos tribunais - 6:1-8
“Tais fostes alguns de vós” - 6:9-11
Comprado por um preço - 6:12-20
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