quarta-feira, 2 de maio de 2018

Livro: 1 Corintios n°24 COMPLETO ASCETISMO

COMPLETO ASCETISMO 

1 Coríntios 7:1-2 Já vimos que no pensamento grego havia uma forte tendência a desprezar o corpo e as coisas do corpo. Essa tendência podia dar lugar a uma posição em que os homens dissessem: "O corpo não tem 1 Coríntios (William Barclay) 65 importância absolutamente; portanto podemos fazer o que quisermos com ele; pelo qual dá no mesmo deixar que ajam livremente seus instintos e apetites." Mas essa mesma tendência podia dar lugar a uma perspectiva totalmente oposta. Podia fazer com que o homem dissesse: "O corpo é pecaminoso, portanto devemos sujeitá-lo; devemos destruir, e se isso não é possível, negar completamente, todos os instintos e desejos naturais do corpo." Paulo se refere a esta outra forma de ver as coisas nesta passagem. Os coríntios, ou ao menos alguns deles, tinham sugerido que se um homem queria ser cristão no sentido mais completo da palavra, devia rechaçar todo o físico, e negar-se a contrair casamento. A resposta de Paulo foi muito prática. Com efeito disse: "Lembrem o lugar em que estão vivendo; lembrem que vivem em Corinto onde não se pode andar pelas ruas sem ser tentado. Lembrem que contam com uma constituição física e instintos sãos que a natureza lhes outorgou. Farão muito melhor em se casar que em cair no pecado." Esta pareceria uma pobre consideração do casamento. Era como se Paulo aconselhasse o casamento para evitar um destino pior. Em realidade está enfrentando os atos de maneira severa e honesta. Está estabelecendo uma lei que é universalmente certa. Ninguém teria que tentar levar uma vida para a qual a natureza não o preparou, ninguém teria que empreender um caminho no qual se rodeou deliberadamente de tentações. Paulo sabia muito bem que nem todos os homens estavam feitos da mesma maneira. Disse: "Examinem-se a si mesmos e escolham o modo de vida em que considerem que poderão viver melhor como cristãos, e não tentem obter um nível antinatural impossível e até equivocado sendo tais como são " 1 Coríntios (William Barclay) 66 O COMPANHEIRISMO NO CASAMENTO 1 Coríntios 7:3-7 Esta passagem surge de uma sugestão procedente de Corinto, que dizia que se os casados queriam ser realmente cristãos deviam abster-se de manter relações sexuais. Esta é outra manifestação da linha de pensamento que considerava o corpo e todos seus instintos e desejos como essencialmente pecaminosos. Disto Paulo extrai um grande princípio. O casamento é uma sociedade. O marido não pode agir independentemente de sua mulher, nem esta de seu marido. Devem agir sempre juntos. O marido não deve considerar nunca a sua mulher como um meio para gratificação, deve considerar o casamento como uma relação tanto física como espiritual, como algo no que ambos encontram gratificação e a satisfação mais plena de todos seus desejos. Em tempos de disciplina especial, de prolongada e fervente oração, poderia convir deixar de lado todas as coisas do corpo, mas isso deve fazer-se de mútuo acordo e só por um tempo, ou seria simplesmente dar lugar a uma situação que facilitaria a tentação. Mais uma vez Paulo parece menosprezar o casamento. Este — sugere — não é um mandamento ideal, é uma considerada concessão à fraqueza humana. Preferiria como ideal que todos fossem como ele Como era ele? Só podemos deduzi-lo. (1) Podemos estar bastante seguros que em algum momento Paulo esteve casado. Podemos estar nos baseando em informação geral. Paulo era um rabino e ele mesmo destacava que não tinha faltado a nenhum dos deveres que a lei e a tradição judias estabeleciam. As crenças ortodoxas judias consideravam o casamento como uma obrigação. Se um homem não se casava e não tinha filhos se dizia que havia "matado a sua posteridade", "que tinha diminuído a imagem de Deus no mundo". Diziase que sete eram excomungados do céu, e a lista começava com "O judeu que não tem esposa; ou que tem esposa mas não filhos". Deus havia dito: "Crescei e multiplicai-vos", e portanto ao não casar-se nem ter filhos se 1 Coríntios (William Barclay) 67 estava transgredindo um mandamento positivo de Deus. Considerava-se que a idade para contrair matrimônio era dezoito anos; e portanto é extremamente improvável que um judeu tão ortodoxo e devoto como tinha sido Paulo não se casou.. (2) Também há evidências de que Paulo tinha estado casado em informações particulares. Deve ter sido membro do Sinédrio porque disse que tinha votado contra os cristãos (Atos 26:10). Era obrigação que os membros do Sinédrio estivessem casados, devido ao fato de que se pensava que os homens casados eram mais misericordiosos. Pode ser que a esposa de Paulo tivesse morrido; mais provável ainda é que o tivesse abandonado e destruído seu lar quando se fez cristão, de modo que em realidade ele tinha deixado tudo por Cristo. De qualquer maneira apagou essa parte de sua vida para sempre e nunca mais se casou. Um homem casado não poderia ter vivido viajando como o fez Paulo. Seu desejo de que outros agissem idealmente como ele provém do fato de que esperava que a Segunda Vinda se produzira logo; o tempo era curto e as ataduras terrestres e as coisas físicas não deviam importar nem interferir. Em realidade, não é que Paulo despreze o casamento; o que acontece é que está insistindo em que o homem deve concentrar-se em estar preparado para a vinda de Cristo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário