(3) Havia os que diziam pertencer a Cefas. Este é o nome judeu de
Pedro. O mais provável é que se tratasse de judeus que tentavam ensinar
que o homem devia ainda observar a lei judia. Eram legalistas que
exaltavam a lei, e que ao fazê-lo, diminuíam a graça,
(4) ainda os que diziam que pertenciam a Cristo. Isto pode ter
significado uma de duas coisas:
(a) Nos manuscritos gregos não existe pontuação nem espaço entre
as palavras. Pode ser que não se esteja descrevendo a nenhum partido.
Pode ser que se trate de um comentário do próprio Paulo. Possivelmente
teríamos que particularizá-lo da seguinte maneira "Eu sou de Paulo; eu
sou de Apolo; eu sou de Cefas — mas eu pertenço a Cristo." Bem pode
ser que se trate de um comentário de Paulo a respeito da desgraçada
situação.
(b) Se não é assim, e se em realidade descreve um partido, deve ter
existido uma pequena seita rígida e farisaica cujos membros pretendiam
ser os únicos cristãos verdadeiros de Corinto. Sua verdadeira falta não
estava em dizer que pertenciam a Cristo, mas em agir corno se este lhes
pertencesse. Possivelmente seja a descrição de um pequeno grupo
intolerante e santarrão.
Não devemos pensar que Paulo esteja diminuindo o batismo. As
pessoas que ele tinha batizado eram conversos muito especiais. Estéfanas
provavelmente tinha sido o primeiro de todos (1 Coríntios 16:15); Crispo
foi nada menos que o principal da sinagoga de Corinto (Atos 18:8). Gaio
foi provavelmente o anfitrião de Paulo (Romanos 16:23). O assunto é o
seguinte — o batismo era em o nome de Jesus. Esta frase em grego
implica a relação mais íntima possível. Dar dinheiro em nome de alguém
era pagá-lo em seu conta, em sua possessão pessoal. Vender um escravo
em nome de alguém era entregá-lo em sua possessão absoluta e
indiscutível. Um soldado jurava lealdade em nome de César, pertencia
absolutamente ao Imperador. Esta frase em nome de implica uma
possessão absoluta e total. No cristianismo implicava ainda mais,
implicava que o cristão não só pertencia a Cristo, mas também de
1 Coríntios (William Barclay) 25
alguma estranha maneira estava identificado com Ele, estava literalmente
nEle. O que Paulo quer dizer é. "Estou muito contente de ter estado
ocupado com a pregação, porque se tivesse batizado teria dado a alguns
de vocês uma desculpa para dizer que tinham sido batizados como minha
possessão, e não de Cristo." Não está menosprezando o batismo,
simplesmente se alegra de que um ato seu não possa ter sido mal
interpretado como uma anexação dos homens a si mesmo e não a Cristo.
Paulo afirmava que lhes tinha apresentado a cruz de Cristo na forma
mais simples. Adornar a história da cruz com retórica e inteligência teria
sido levar os homens a pensarem mais na linguagem que nos fatos, mais
no dissertador que na mensagem. O objetivo de Paulo era apresentar aos
homens não a si mesmo, mas a Cristo com toda sua solitária grandeza.
PEDRA DE TROPEÇO PARA OS JUDEUS
E INSENSATEZ PARA OS GENTIOS
1 Coríntios 1:18-25
A história que o cristianismo tinha para contar parecia uma tolice
aos gentios cultos e aos judeus piedosos. Paulo começa utilizando
livremente duas citações de Isaías (Isaías 29:14; 33:18) para demonstrar
como a sabedoria meramente humana está destinada a falhar. Cita o fato
indiscutível de que com toda sua sabedoria o mundo jamais encontrou a
Deus e ainda, tateando, o estava buscando cegamente. O próprio Deus
tinha planejado essa busca para demonstrar aos homens sua própria
incapacidade e assim preparar o caminho para a aceitação dAquele que é
o único caminho a Deus.
De que se tratava, pois, esta mensagem cristã? Se estudarmos os
quatro grandes sermões do Livro de Atos (Atos 2 14-39, 3:12-26; 4:8-12;
1036-43), encontramos que na pregação cristã há certos elementos
constantes. (1) Destaca-se que chegou o grande momento prometido por
Deus. (2) Faz-se um resumo da vida, morte e ressurreição de Jesus. (3)
Destaca-se que tudo isto correspondeu aos profetas (4) Assegura-se que
1 Coríntios (William Barclay) 26
Cristo voltará. (5) Convida-se urgentemente os homens ao
arrependimento e a receber o dom prometido do Espírito Santo.
(1) Para os judeus essa mensagem era uma pedra de tropeço por
que? Havia duas razões:
(a) Não podiam crer que alguém que tinha morrido sobre uma cruz
pudesse ser o Ungido de Deus. Assinalavam a sua própria lei que dizia
inequivocamente: “Pois aquele que é pendurado, é maldito de Deus”
(Deuteronômio 21:23). Para os judeus o fato da crucificação, em lugar de
provar que Jesus era o filho de Deus, negava-o. Pode parecer um fato
extraordinário, mas até com Isaías 53 perante seus olhos, os judeus não
tinham sonhado nunca com um Messias que sofresse. A cruz para os
judeus era e é uma barreira insuperável para crer em Cristo.
(b) Os judeus buscavam sinais. Esperavam que junto com a idade
de ouro de Deus se produzissem atos maravilhosos. A época em que
Paulo estava escrevendo produziu uma série de falsos Messias, e todos
eles tinham enganado as pessoas com a promessa de que ocorreriam atos
grandiosos. No ano 45 d.C. um homem chamado Teudas tinha
persuadido a milhares de pessoas para que abandonassem seus lares e o
seguissem até o Jordão, prometendo que a uma ordem sua, o rio se
dividiria e poderiam atravessá-lo sobre terra seca. No ano 54 d.C. chegou
a Jerusalém um homem do Egito, dizendo-se profeta. Persuadiu a trinta
mil pessoas para que o seguissem ao Monte das Oliveiras com a
promessa de que à sua ordem cairiam os muros de Jerusalém. Os judeus
esperavam esse tipo de coisas. Em Jesus viam um homem manso e
humilde, que evitou deliberadamente o espetacular, que esteve entre os
homens como servo, e que terminou em uma cruz — e esta era para eles
uma imagem impossível do Ungido de Deus.
(2) Para os gregos a mensagem era uma tolice. Mais uma vez
existem duas razões:
(a) Para a mentalidade grega a primeira característica de Deus era a
apatheia. Esta palavra significa mais que apatia, significa incapacidade
total de sentir. Os gregos sustentavam que Deus não podia sentir. Se Ele
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