quarta-feira, 2 de maio de 2018

Livro: 1 Corintios n°17

Qualquer que seja a posição de um homem dentro de uma igreja, e qualquer que seja o poder que ostente ou o prestígio que desfrute, continua sendo um servo de Cristo. Este pensamento levou Paulo a meditar no juízo. Um oikonomos deve ser uma pessoa em que se possa confiar. O mesmo fato de que desfrute de tanta independência e responsabilidade, de que controle tanto, faz mais necessário que seu amo possa depender absolutamente de sua fidelidade. Os coríntios, com suas seitas e partidos e sua apropriação dos líderes da Igreja como se fossem seus amos, exerceram o juízo sobre eles: preferiram um ao outro. De modo que Paulo fala dos três juízos que todo homem deve enfrentar: (1) Deve enfrentar o ajuizamento dos que o rodeiam. Neste caso Paulo diz que para ele isso não é nada. Mas há um sentido em que o homem não pode desdenhar o juízo de seus semelhantes. O estranho é que, apesar de seus ocasionais equívocos radicais, o juízo de nossos semelhantes freqüentemente é instintivamente correto. Isto se deve a que todo homem admira instintivamente as qualidades básicas de honra, honestidade, retidão e confiabilidade, generosidade, sacrifício e amor. Antístenes, um filósofo cínico, costumava dizer: "Só há duas pessoas que podem te dizer a verdade a respeito de ti mesmo — um inimigo furioso ou um amigo que te ama muito." É muito certo que nunca devemos deixar que o que outros opinem nos desvie do que cremos correto, mas também é certo que a opinião dos homens é muitas vezes mais exata do que nós pensamos, devido ao fato de que os homens admiram instintivamente as coisas belas. (2) Deve enfrentar o juízo de si mesmo. Este tampouco interessa a Paulo. Sabia muito bem que a opinião que alguém tem de si mesmo pode estar velada pela estima própria, por seu farisaísmo, pelo orgulho e pela vaidade. Mas no sentido real todo homem deve enfrentar seu próprio juízo. Uma das leis éticas gregas básicas diz "Homem, conhece-te a ti mesmo." Os cínicos insistiam em que uma das primeiras características 1 Coríntios (William Barclay) 45 de um homem verdadeiro era "a capacidade para dar-se bem consigo mesmo". A única pessoa da qual um homem não pode escapar é de si mesmo; tem que viver consigo mesmo. E se perder o respeito por si mesmo e não pode olhar-se a si mesmo nos olhos, a vida se torna intolerável. (3) Deve enfrentar o juízo de Deus. Em última instância, este é o único juízo verdadeiro. Para Paulo, o juízo que esperava não era o de qualquer dia humano mas o do Dia do Senhor. O juízo de Deus é final por duas razões: (a) Só Deus conhece todas as circunstâncias. Pode trazer à luz o que está oculto. Conhece as lutas do homem, sabe até onde poderia ter-se afundado, e até onde poderia ter subido, sabe o que um homem poderia ter chegado a ser para mal ou para bem. Deus é a única pessoa que conhece todos os fatos. (b) Só Deus conhece todas as motivações do homem. "O homem vê a ação, mas Deus vê a intenção." E muitas ações que parecem nobres podem ter-se realizado pelos motivos mais egoístas e indignos, e muitas ações que parecem baixam podem ter-se realizado pelas motivações mais elevadas. Aquele que fez o coração humano o conhece e só Ele pode julgá-lo. Faríamos bem em lembrar duas coisas. Primeiro, que embora evitemos todo outro juízo ou fechemos nossos ouvidos perante eles, como a avestruz, não podemos evitar o juízo de Deus, e segundo, que o juízo pertence a Deus porque só Ele pode julgar, e nós faríamos bem em não julgar a ninguém. A HUMILDADE APOSTÓLICA E O ORGULHO ANTICRISTÃO 1 Coríntios 4:6-13 Tudo o que Paulo esteve dizendo a respeito de si mesmo e de Apolo não é certo apenas com respeito a eles, também se aplica aos coríntios. Não só ele e Apolo devem manter-se humildes pensando que não estão 1 Coríntios (William Barclay) 46 enfrentando o juízo dos homens, mas o de Deus, também os coríntios devem andar em uma humildade semelhante. Paulo sempre agia com maravilhosa cortesia. Incluía-se a si mesmo em suas próprias advertências e condenações. O verdadeiro pregador raramente utiliza a palavra vós e sempre usa nós; não fala com os homens como se o fizesse de acima, ele o faz considerando-se entre eles, como alguém que sente como eles e que também é um homem de paixões. Se realmente queremos ajudar e salvar os homens nossa atitude não deve ser de condenação, mas sim de rogo, nosso acento não deve ser de crítica, mas sim de compaixão. Paulo não insiste em que os coríntios não devem transgredir suas palavras, mas que não devem transgredir as de Deus. pôs perante eles não sua própria ensino, mas sim lhes mostrou como a palavra de Deus condena todo orgulho. Recorda-lhes que não trata-se de um conselho humano, mas sim de uma ordem divina. E logo Paulo lhes lança a mais básica e pertinente de todas as perguntas. "O que possuem que não tenham recebido?" Nesta oração Agostinho viu toda a doutrina da graça. Em um momento Santo Agostinho tinha pensado em termos do logro humano, mas chegou a dizer: "Para resolver esta questão trabalhamos duro pela causa da liberdade da vontade do homem, mas a Graça de Deus ganhou." Ninguém jamais poderia conhecer a Deus, se Ele não se revelasse, ninguém jamais teria ganho sua própria salvação; o homem não se salva a si mesmo, é salvado. Quando pensamos a respeito do que temos feito e podemos fazer e no que Deus tem feito por nós, deixamos de lado o orgulho e só fica uma humilde gratidão. A falta básica dos coríntios era que tinham esquecido que deviam suas almas a Deus. E então nos encontramos com um desses estalos que se apresentam várias vezes nas cartas de Paulo. Dirige-se aos coríntios com uma ironia severíssima. Compara seu orgulho, sua estima de si mesmos, seu sentimento de superioridade, com a vida que vive um apóstolo. Escolhe uma imagem vívida. Quando um general romano ganhava uma grande vitória ele desfilava com seu exército através das ruas da cidade com 

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