Paulo usa aqui uma palavra que tem um sentido técnico. Nossas
versões dizem: "Falamos sabedoria de Deus em mistério." A palavra
grega musterion significa algo cujo significado está oculto para aqueles
que não foram iniciados, mas que é bem claro para aqueles que estão. A
palavra descreveria um rito ou uma cerimônia levados a cabo em alguma
sociedade cujo significado era bastante claro para os membros dela, mas
ininteligíveis para os de fora. De modo que o que Paulo está dizendo é o
seguinte: "Passamos logo a considerar e explicar as coisas que só o
homem que já entregou o seu coração a Cristo pode entender."
Mas Paulo insiste em que este ensino especial não é o produto de
uma atividade intelectual dos homens, é um dom de Deus, e veio ao
mundo com Jesus Cristo. Deus outorga todo conhecimento. É o resultado
do encontro do espírito investigador do homem com o Espírito revelador
de Deus. Todos os nossos descobrimentos não são tanto o que nossas
mentes encontraram, como o que Deus nos disse. Isto de maneira
nenhuma nos liberta da responsabilidade do esforço humano Só o
estudante que trabalha pode capacitar-se para receber as verdadeiras
riquezas da mente de um grande mestre. Deve preparar-se para receber
através de um esforço incansável. O mesmo acontece entre Deus e nós.
Quanto mais busquemos e procuremos compreender, mais nos ensinará
Deus, e este processo não tem limites devido ao fato de que as riquezas
de Deus são inescrutáveis.
COISAS ESPIRITUAIS PARA HOMENS ESPIRITUAIS
1 Coríntios 2:10-16
Há certas coisas básicas nesta passagem.
(1) Paulo estabelece a verdade fundamental de que a única pessoa
que pode nos falar a respeito de Deus é seu Espírito. Utiliza para isso
uma analogia humana. Há certas coisas que só o próprio espírito de um
homem conhece. Há sentimentos tão pessoais, coisas tão privadas,
experiências tão íntimas que ninguém as conhece salvo o próprio espírito
1 Coríntios (William Barclay) 36
do homem. Ninguém pode ver em nossos corações e conhecer o que há
ali, salvo nossos próprios espíritos. Agora — contínua dizendo — o
mesmo se aplica a Deus. Existem em Deus costure profundas e íntimas
que só seu Espírito conhece, e esse Espírito é a única pessoa que pode
nos levar a ter um conhecimento realmente intimo de Deus. Há coisas
que o poder do pensamento, por si só, jamais poderia encontrar, o
Espírito tem que nos ensiná-las, pois só Ele as conhece.
(2) Mas mesmo assim nem todos os homens podem compreender
estas coisas. Paulo fala a respeito da interpretação das coisas espirituais
para pessoas espirituais. Diferencia dois tipos de pessoas.
(a) Aquelas que são pneumatikoi. Pneuma significa espírito, e o
homem que é pneumatikos é aquele que é sensível ao Espírito e lhe
obedece, aquele cuja vida é dirigida e guiada pelo Espírito, aquele que
toma todas suas decisões e põe em exercício todos os seus juízos sob a
influência e a direção do Espírito; aquele que vive consciente de que
existem coisas mais além das coisas deste mundo, valores para além dos
terrestres; que há uma vida para além da vida deste mundo.
(b) Está o homem psuchikos. Psuche em grego se traduz muitas
vezes por alma; mas esse não é o significado real. Psuche é o princípio
da vida física. Tudo o que vive tem psuche: um cão, um gato todo
animal tem psuche, mas não pneuma. A primeira é a vida física que o
homem compartilha com todas as coisas vivas, mas o segundo, o
espírito, é o que faz o homem, o que o diferencia do resto da criação, o
que o assemelha a Deus. De modo que no versículo 14 Paulo fala do
homem que é psuchikos. É o homem que vive como se não houvesse
nada para além da vida física, como se não houvesse outras necessidades
fora das materiais; nem outros valores, já que se rege por medidas físicas
e materiais. Um homem assim não pode entender as coisas espirituais. O
homem que pensa que nada é mais importante que a satisfação do desejo
sexual não pode compreender o significado da castidade; o homem que
considera como o fim supremo da vida o monopólio de bens materiais
não pode compreender a generosidade; o homem que pensa que seus
1 Coríntios (William Barclay) 37
apetites devem ser a última palavra não pode compreender a pureza; e o
homem que nunca pensa no mais adiante não pode compreender as
coisas de Deus. Para ele são meras insensatezes. Nenhum homem
deveria ser assim; mas se sempre sufoca "os desejos imortais" que
existem em sua alma, se converterá nisso, e se o faz, o Espírito de Deus
falará e ele não o escutará
É muito fácil fazer isso, chegar a estar tão comprometido com o
mundo que não exista nada mais além dele. Nós também devemos orar
para ter a mentalidade de Cristo, porque só quando Ele vive em nós
estamos livres da invasão usurpadora das demandas das coisas materiais.
1 Coríntios 3
A suprema importância de Deus - 3:1-9
O fundamento e os construtores - 3:10-15
Sabedoria e insensatez - 3:16-23
A SUPREMA IMPORTÂNCIA DE DEUS
1 Coríntios 3:1-9
Paulo falou a respeito da diferença entre o homem espiritual
(pneumatikos), e que portanto pode compreender as verdades espirituais,
e aquele que é psuchikos, aquele cujos interesses, fins e idéias não vão
para além da vida terrena ou física, e que portanto não pode compreender
a verdade espiritual. Agora acusa os coríntios de ainda estarem na etapa
terrestre e física. Mas usa duas novas palavras para descrevê-los. No
versículo 1 os chama sarkinoi. Esta palavra provém de sarx, que
significa carne, e que é muito comum para Paulo. Todos os adjetivos
gregos que terminam em inos significam feito de alguma coisa. De modo
que Paulo começa dizendo que os coríntios estão feitos de carne, que
ainda não transcenderam as coisas humanas. Não se tratava em realidade
de uma recriminação: o homem justamente por ser tal é de carne, mas
não deve permanecer assim. O problema era que os coríntios não eram
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