quarta-feira, 2 de maio de 2018

Livro: 1 Corintios n°45 O CULTO VERDADEIRO E O CULTO FALSO

1 Coríntios 14 O culto verdadeiro e o culto falso - 14:1-19 Os efeitos da verdadeira e da falsa adoração - 14:20-25 Conselhos práticos - 14:26-33 Inovações proibidas - 14:34-40

 O CULTO VERDADEIRO E O CULTO FALSO


 1 Coríntios 14:1-19 Este capitulo é muito difícil de entender, devido ao fato de que se refere a um fenômeno que, para a maioria de nós, está totalmente fora de nossa experiência. Em todo o capítulo Paulo compara entre si dois dons espirituais. Em primeiro lugar o falar em línguas. Este fenômeno era muito comum na Igreja primitiva. Durante ele a pessoa se excitava até chegar a um êxtase e um delírio e nesse estado lançava uma incontrolável corrente de sons em linguagem desconhecida. A não ser que esses sons fossem interpretados e, em realidade, traduzidos, ninguém sabia o que significavam. Embora nos pareça estranho, na Igreja primitiva isto era um dom altamente cobiçado. Era um dom perigoso. Por um lado, era anormal e muito admirado; portanto a pessoa que o possuía podia tender a desenvolver um certo orgulho espiritual por seu dom. E por outro lado, o próprio desejo de possuí-lo produzia, ao menos em alguns, certo auto-hipnotismo e certa histeria deliberadamente induzida que resultava ser um falar em línguas completamente falso, 1 Coríntios (William Barclay) 128 enganoso, e fabricado. Contra este falar em línguas Paulo antepõe o dom de profecia. Preferimos não utilizar este termo, cujo emprego pode complicar mais uma situação já complicada. Neste caso, e em realidade a maioria das vezes, a profecia não tem nada que ver com a predição do futuro, mas sim significa proclamar a vontade e a mensagem de Deus. Como já dissemos, pregar se aproxima deste significado. Em toda esta seção Paulo trata o perigo do dom de falar em línguas, e a superioridade de interpretar a verdade em forma tal que todos podem entendê-la. Podemos seguir melhor a linha do pensamento de Paulo analisando toda a seção. Paulo começa dizendo que as línguas se dirigem a Deus, e não aos homens, devido ao fato de que eles não podem entender. Se alguém exercitar o dom de línguas pode estar enriquecendo sua própria experiência espiritual, mas com segurança não está enriquecendo as almas da congregação, devido ao fato de que para eles resulta ininteligível; por outro lado, o dom de anunciar a verdade produz algo que todos podem entender e que é de proveito para a alma de cada um. Em seguida Paulo continua usando ilustrações e alegorias. Pensa ir a eles; mas se o faz falando em línguas que utilidade terá seu visita? Não saberiam do que estaria falando. Tomemos o caso de um instrumento musical. Se obedece as leis normais da harmonia, pode produzir uma melodia que todos podem reconhecer; mas, se não, simplesmente produz um som caótico. Tomemos o caso do clarim. Se tocar o chamado correto poderá convocar os homens a avançar, retroceder, dormir ou despertar. Mas se simplesmente produz um som confuso, sem significado, ninguém saberá o que fazer. Neste mundo existem muitas formas de falar; mas se dois homens que não compreendem o idioma um do outro se encontram, se falam um ao outro, a linguagem de cada um deles soará a jargão sem sentido, e não obterão nada do encontro. De modo que Paulo não nega a existência do dom de línguas. Ninguém pode dizer que nele se cumpre a fábula da raposa e as uvas, pois ele possui o dom mais que nenhum outro, mas insiste em que para 1 Coríntios (William Barclay) 129 que um dom seja valioso deve beneficiar a toda a congregação, e portanto, se utiliza-se o dom de línguas, este não terá sentido a não ser que seja interpretado. Assim, seja que o homem fale, ore ou cante, deve fazê-lo não só com seu espírito mas com sua mente. Deve saber o que acontece e outros devem poder compreendê-lo. Desta maneira Paulo chega à brusca conclusão de que numa congregação cristã é melhor pronunciar umas poucas orações compreensíveis que emitir uma corrente de sons ininteligíveis em línguas. Desta seção muito difícil e remota surgem certas verdades valiosas. O versículo 3 muito sucintamente estabelece o fim de toda pregação e ensino. Tem três fases. (1) Deve tender a edificar. Deve ter como fim aumentar o conhecimento que o homem tem da verdade cristã e sua capacidade para viver uma vida cristã. Deve outorgar-lhe uma mente melhor instruída e uma vida melhor equipada. Seu fim deve ser repartir força para o caminho cristão. (2) Deve tender a alentar. Em todo grupo de pessoas há os que se sentem deprimidos e desanimados. Seus sonhos não se convertem em realidade; seu esforço pareceria ter obtido muito pouco; o exame pessoal só mostra fracassos e incapacidades. Dentro da comunidade cristã o homem teria que encontrar algo que alegrasse seu coração, temperasse seu braço, e fizesse elevar a fronte. Comentava-se a respeito de um pregador que dava a conhecer o evangelho como se fosse um meteorologista que anunciava o avanço de uma profunda depressão. Um culto poderá começar humilhando o homem ao lhe mostrar seu próprio pecado mas será um fracasso a não ser que termine assinalando a graça e o Deus que o capacitará a conquistar esse pecado. (3) Deve confortar. "Nunca a manhã passou a ser tarde sem que algum coração se destroçasse." Existem o que Virgilio chamou "as lágrimas das coisas". Em todo grupo de pessoas haverá sempre alguém a quem a vida danificou e para quem a primavera já não existe. E dentro 1 Coríntios (William Barclay) 130 da comunidade cristã deve poder encontrar beleza para suas cinzas, óleo de alegria para seu luto, e um vestido de louvor para o espírito em sua opressão". O versículo 5 nos menciona as coisas que para Paulo eram o pano de fundo e a substância de toda pregação e ensino. (1) Provém de uma revelação direta de Deus. Ninguém pode falar com outros a não ser que Deus tenha falado a ele em primeiro lugar. Dizse que um grande pregador se detinha cada tanto como se estivesse ouvindo uma voz. Nunca damos aos homens ou aos alunos verdades que nós produzimos, nem mesmo descobrimos; transmitimos a verdade que nos foi dada. (2) Pode outorgar um conhecimento especial. Ninguém pode ser perito em tudo, mas cada um tem um conhecimento especial em alguma matéria. Tem-se dito que qualquer pessoa poderia escrever um livro interessante se simplesmente descrevesse completa e honestamente tudo o que lhe aconteceu. As experiências da vida dão algo especial a cada um de nós, e a pregação e o ensino mais efetivo é simplesmente dar testemunho do que sabemos que é certo porque o achamos certo. (3) Consiste em proclamar a verdade. Na Igreja primitiva a primeira pregação que se dava perante qualquer congregação era uma proclamação simples e direta dos fatos da história cristã. Há algumas costure que estão mais além de todo argumento. Goethe disse: "Conteme suas certezas, tenho suficientes dúvidas das minhas." Qualquer que seja a forma em que terminemos, é bom começar com os fatos de Cristo e do cristianismo. (4) Continuará ensinando. Chega o momento em que o homem pergunta: "O que querem dizer estes fatos? Qual é seu significado?" Simplesmente porque somos criaturas pensantes a religião implica em teologia. E pode ser que a fé de muitos decaia e a fidelidade de muitos se esfrie devido ao fato de que não analisaram as coisas e não as pensaram em sua totalidade. De toda a passagem surgem dois amplos princípios referentes ao culto cristão. (1) A adoração nunca deve ser egoísta. Tudo o que se faça durante o culto deve realizar-se para o bem de todos. Ninguém durante ele, já seja quem o dirija ou o compartilhe, tem direito a fazê-lo de acordo com suas próprias preferências e predileções pessoais. Deve buscar o bem de toda a comunidade de adoradores. A grande prova de qualquer parte do culto é a seguinte: "Ajudará a todos?" Não é: "Exporá meus dons especiais?", mas sim: "Fará isto com que todos os presentes se sintam mais perto uns de outros e mais perto de Deus?" (2) A adoração deve ser inteligível. As grandes coisas são essencialmente as coisas simples, a linguagem mais nobre é em essência a mais simples. Em última instância só o que satisfaz minha mente pode confortar meu coração, e só o que minha mente pode captar pode outorgar força a minha vida.

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