A FESTA MAL INTERPRETADA
1 Coríntios 11:17-22 O mundo antigo era em muitos sentidos muito mais sociável que o nosso. Era um costume comum que grupos de pessoas se reunissem para comer juntos. Havia, em particular, uma festa chamada eranos na qual cada um dos participantes levava sua própria comida, juntava-se tudo e se fazia uma festa em comum. A Igreja primitiva tinha um costume; tratava-se de uma festa chamada Ágape ou Festa de Amor. Todos os cristãos concorriam a ela, levando o que podiam, e quando se juntava todo o contribuído, sentavam-se e tinham uma comida em comum. Era um belo costume, e é uma lástima que se perdeu. Era uma maneira de produzir e alimentar a verdadeira comunhão cristã. Mas na Igreja de Corinto as coisas não tinham ido muito bem com a Festa de Amor. Na Igreja havia ricos e pobres; alguns podiam levar muito, e havia escravos que com muita dificuldade podiam colaborar com algo. Em realidade para muitos escravos pobres, a Festa de Amor deve ter sido a única comida decente que tinham em toda a semana. Mas em Corinto se perdeu a arte de compartilhar. Os ricos não compartilhavam seu mantimentos mas sim os comiam em pequenos grupos exclusivos, apurando-se para não ter que compartilhar, enquanto que os pobres virtualmente não tinham nada. O resultado era que a comida pela qual as diferenças sociais entre os membros da Igreja deviam ter desaparecido só servia para aumentar e agravar essas mesmas diferenças. O que teria que ter sido uma comunidade tinha degenerado em uma série de camarilhas com consciência de classe. Paulo reprova tudo isto sem vacilar e sem piedade. (1) Bem pode ser que os distintos grupos estivessem formados por gente que sustentavam diferentes opiniões. Um grande erudito disse: ''Ter zelo religioso, sem converter-se em um sectário religioso, é uma grande prova de verdadeira devoção." Se pensarmos diferente de outro, com o tempo poderemos chegar a compreendê-lo e até simpatizar com 1 Coríntios (William Barclay) 103 ele se nos mantemos em comunhão com ele e conversamos; mas se nos fechamos e formamos nosso pequeno grupo enquanto essa pessoa permanece em seu pequeno grupo não haverá esperança alguma de chegar a um mútuo entendimento (2) A Igreja primitiva era o único lugar em todo mundo antigo em que as barreiras que o dividiam tinham caído. O mundo antigo estava dividido rigidamente: havia os homens livres e os escravos, havia os gregos e os bárbaros — os que não falavam grego; havia os judeus e os gentios; havia os cidadãos romanos e as raças inferiores fora da lei; havia os cultos e os ignorantes. A Igreja era o único lugar em que todos os homens podiam reunir-se. Um grande historiador da Igreja escreveu a respeito destas congregações cristãs primitivas: "Dentro de seus próprios limites haviam resolvido quase de passagem os problemas sociais que desbaratavam a Roma e que ainda desconcertam a Europa. Tinham elevado a mulher ao lugar que lhe correspondia, restaurado a dignidade do trabalho, abolido a mendicidade, e tirado o aguilhão da escravidão. O segredo da revolução era que na Ceia do Senhor se esqueceu o egoísmo racial e de classe e se achou uma nova base para a sociedade no amor da imagem visível de Deus nos homens por aqueles que Cristo tinha morrido." Uma igreja em que existem distinções sociais e de classe não é uma verdadeira igreja. A verdadeira igreja é um corpo de homens e mulheres unidos entre si devido ao fato de estarem unidos a Cristo. Até a palavra que se utiliza para descrever o sacramento é sugestiva. Nós a chamamos a Ceia do Senhor; mas a palavra ceia ou jantar pode conduzir a conclusões errôneas. Geralmente para nós o jantar não é a refeição principal do dia. Em grego a palavra é deipnon. Para os gregos o café da manhã era uma refeição em que tudo o que se consumia era um pequeno pedaço de pão molhado em vinho, o almoço se comia em qualquer parte, até na rua ou em uma praça; o deipnon era a principal refeição do dia, em que as pessoas se sentavam sem pressa e em que não só satisfaziam seu apetite, mas também passavam um longo momento juntos. A mesma 1 Coríntios (William Barclay) 104 palavra demonstra que a refeição cristã deveria ser uma refeição em que as pessoas passassem um longo tempo juntos. (3) Uma igreja não é verdadeira se esqueceu a arte de compartilhar. Quando as pessoas desejam manter as coisas só para si mesmas ou para seu próprio círculo nem sequer estão começando a ser cristãos. O verdadeiro cristão não pode suportar ter muito enquanto outros têm pouco; encontra seu maior privilégio não em guardar zelosamente suas prerrogativas, mas em renunciar a elas.
1 Coríntios 11:17-22 O mundo antigo era em muitos sentidos muito mais sociável que o nosso. Era um costume comum que grupos de pessoas se reunissem para comer juntos. Havia, em particular, uma festa chamada eranos na qual cada um dos participantes levava sua própria comida, juntava-se tudo e se fazia uma festa em comum. A Igreja primitiva tinha um costume; tratava-se de uma festa chamada Ágape ou Festa de Amor. Todos os cristãos concorriam a ela, levando o que podiam, e quando se juntava todo o contribuído, sentavam-se e tinham uma comida em comum. Era um belo costume, e é uma lástima que se perdeu. Era uma maneira de produzir e alimentar a verdadeira comunhão cristã. Mas na Igreja de Corinto as coisas não tinham ido muito bem com a Festa de Amor. Na Igreja havia ricos e pobres; alguns podiam levar muito, e havia escravos que com muita dificuldade podiam colaborar com algo. Em realidade para muitos escravos pobres, a Festa de Amor deve ter sido a única comida decente que tinham em toda a semana. Mas em Corinto se perdeu a arte de compartilhar. Os ricos não compartilhavam seu mantimentos mas sim os comiam em pequenos grupos exclusivos, apurando-se para não ter que compartilhar, enquanto que os pobres virtualmente não tinham nada. O resultado era que a comida pela qual as diferenças sociais entre os membros da Igreja deviam ter desaparecido só servia para aumentar e agravar essas mesmas diferenças. O que teria que ter sido uma comunidade tinha degenerado em uma série de camarilhas com consciência de classe. Paulo reprova tudo isto sem vacilar e sem piedade. (1) Bem pode ser que os distintos grupos estivessem formados por gente que sustentavam diferentes opiniões. Um grande erudito disse: ''Ter zelo religioso, sem converter-se em um sectário religioso, é uma grande prova de verdadeira devoção." Se pensarmos diferente de outro, com o tempo poderemos chegar a compreendê-lo e até simpatizar com 1 Coríntios (William Barclay) 103 ele se nos mantemos em comunhão com ele e conversamos; mas se nos fechamos e formamos nosso pequeno grupo enquanto essa pessoa permanece em seu pequeno grupo não haverá esperança alguma de chegar a um mútuo entendimento (2) A Igreja primitiva era o único lugar em todo mundo antigo em que as barreiras que o dividiam tinham caído. O mundo antigo estava dividido rigidamente: havia os homens livres e os escravos, havia os gregos e os bárbaros — os que não falavam grego; havia os judeus e os gentios; havia os cidadãos romanos e as raças inferiores fora da lei; havia os cultos e os ignorantes. A Igreja era o único lugar em que todos os homens podiam reunir-se. Um grande historiador da Igreja escreveu a respeito destas congregações cristãs primitivas: "Dentro de seus próprios limites haviam resolvido quase de passagem os problemas sociais que desbaratavam a Roma e que ainda desconcertam a Europa. Tinham elevado a mulher ao lugar que lhe correspondia, restaurado a dignidade do trabalho, abolido a mendicidade, e tirado o aguilhão da escravidão. O segredo da revolução era que na Ceia do Senhor se esqueceu o egoísmo racial e de classe e se achou uma nova base para a sociedade no amor da imagem visível de Deus nos homens por aqueles que Cristo tinha morrido." Uma igreja em que existem distinções sociais e de classe não é uma verdadeira igreja. A verdadeira igreja é um corpo de homens e mulheres unidos entre si devido ao fato de estarem unidos a Cristo. Até a palavra que se utiliza para descrever o sacramento é sugestiva. Nós a chamamos a Ceia do Senhor; mas a palavra ceia ou jantar pode conduzir a conclusões errôneas. Geralmente para nós o jantar não é a refeição principal do dia. Em grego a palavra é deipnon. Para os gregos o café da manhã era uma refeição em que tudo o que se consumia era um pequeno pedaço de pão molhado em vinho, o almoço se comia em qualquer parte, até na rua ou em uma praça; o deipnon era a principal refeição do dia, em que as pessoas se sentavam sem pressa e em que não só satisfaziam seu apetite, mas também passavam um longo momento juntos. A mesma 1 Coríntios (William Barclay) 104 palavra demonstra que a refeição cristã deveria ser uma refeição em que as pessoas passassem um longo tempo juntos. (3) Uma igreja não é verdadeira se esqueceu a arte de compartilhar. Quando as pessoas desejam manter as coisas só para si mesmas ou para seu próprio círculo nem sequer estão começando a ser cristãos. O verdadeiro cristão não pode suportar ter muito enquanto outros têm pouco; encontra seu maior privilégio não em guardar zelosamente suas prerrogativas, mas em renunciar a elas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário